As palavras inventadas: a brincadeira, o inesperado e o maravilhamento
Toda vez que pensava em como iniciar este artigo, um fotograma do célebre filme de Fellini de 1963, Oito e ½, aparecia diante de meus olhos. A cena é bem aquela em que uma mulher transcreve na lousa os pensamentos de Guido, o protagonista, capturados por um mago com o poder de ler a mente das pessoas.
No quadro negro, com letras garrafais, aparece a escrita ASA NISI MASA, um enigma que faz reaflorar na mente de Guido uma série de flashbacks relativos à sua infância.
Cada detalhe da cena contribui para recriar o ambiente do calor doméstico, desde o reconfortante dialeto da Emilia-Romagna aos banhos de banheira, das canções de ninar às palavras que as crianças, de modo quase propiciatório, repetem silabando: “ASA NINI MASA”.
Críticos e especialistas já fizeram estudos apaixonados sobre o significado desta palavra, chegando a elaborar diversas teses e interpretações. A mais aceita é aquela que sugere que a palavra não seja nada mais que o termo Anima [Alma] traduzido na “língua da serpente”, o equivalente italiano de nossa língua do P: A (SA) NI (SI) MA (SA)[i].
Indo um pouco além de uma investigação lexical, me interessa evidenciar o aspecto lúdico, o jogo de palavras que está na base da aprendizagem da língua, principalmente na primeira fase, quando cada som e ritmo encanta as crianças antes do próprio significado, e lhes desperta o interesse de transformar ou inventar novas palavras.
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